sábado

Fechado para reparos...

Talvez volte,
Talvez mude de endereço...
não sei o que fazer ainda.
Pensarei numa solução.

Só uma perguntinha: Camille, cadê você???

terça-feira

A teoria do amigo

Com o propósito imediato de quebrar o jejum + as boas intenções de divulgar assunto de 'utilidade pública', resolvi postar algo que não é meu, mas foi 'ponto de pauta' numa divertida discussão etílica da qual fiz parte, recentemente. Três mulheres comentavam a aridez dos períodos de meia estação (quando não estamos pegando ninguém). A mais descolada delas apresentou uma sofisticada teoria, advertindo que recorrer à nossa agenda de amigos pode ser a melhor solução nessas fases de crise - quando não estamos abertas/os a novos relacionamentos, mas também não merecemos a angústia do celibato. As outras duas tiveram reações um tanto reacionárias (confesso que não consegui pensar em nenhum amigo que se disporia ou a quem me disporia, assim de cara). Para desabalar nosso conservadorismo, ela encaminhou o seguinte email:

Acho que preciso desenvolver mais minha teoria do amigo para vocês não ficarem me achando uma pervertida. Para começar, claro que não estou falando do melhor amigo ou daquele superamigo de infância!

Tem umas opções melhores, tipo aquele amigo que sempre quis ficar com você ou aquele com quem você sempre quis ficar. Ai, meu Deus, será possível que só eu tenha alguns desses? A melhor de todas é aquela pendência, aquele cara que você gostava e que também gostava de você de uma forma esquisita e platônica, porque vocês dois estavam namorando com outras pessoas na época. Quando rola algo assim, é bem legal.

A verdade verdadeira é que quem já disse a velha frase que "sem tesão, não há solução" estava certo! Ou seja, aquele amigo-irmão, em quem não dá para pensar como alguém pegável, definitivamente, não dá caldo. Uma coisa que acho ruim de ficar com amigo é quando algum dos dois gosta mais do que como amigo. Nesse caso, a situação pode complicar sim. Fica mal resolvido, né? Fica até chato. Já com os outros, nada muda, fica tranqüilo.

Também não pensem que já fiquei com 300 amigos, foram só uns dois ou três, mas foi algo legal, sem estresse depois. No mais, bem, meninas, vamos lá, amigo é pra essas coisas também!!!

O que eu acho é que cada um deve mais é fazer o que quer da vida. Hoje li no jornal uma matéria sobre gente que não transa por opção. E acho até que eles estão certos, ora, se nem gostam de sexo! Parece que toda opção que se faz carrega uma pressão tão grande. Só que tem gente que precisa se virar quando está solteiro, certo? E, acreditem, um amigo pode ser bem melhor que um passante! Pronto, falei! :D


Bom, depois dessa, assinei embaixo. Lógico que a 'teoria do amigo' não é a solução para todos os males, também imagino que não se aplica a todo mundo (muita gente não tem amigos assim, mesmo), mas não deixa de ser uma idéia instigante. ;) Risos.

segunda-feira

Banzo, de novo...

Eu tenho dessas coisas. Mais do que gostaria. Acho que é a proximidade da minha idade nova. Acho que é a inconstância da vida. Acho que estou escutando Alanis Morisette demais.
E daí não tenho vontade nenhuma de escrever. É destes momentos na vida em que preciso de um tempo para me ouvir e tomar o rumo de quem sou... E recentemente fiz algo que não fazia há séculos. Um poema (ou alguns). Falando de amor. Ei-lo(s):

Um pedaço dos teus olhos
Ficou em minha visão do mar
Um rumor de tua língua
Contorna a minha palavra
Na textura de teus dedos
Vivem os extintos fios
De meus cabelos

Em tudo que é nada
Jaz o tempo do que fomos
Guardado no coração mínimo
E escuro
De uma concha marinha.

*

Tudo que é ínfimo
E não cabe na intensidade da distância
Tudo que é perda
Renovando a incessante partida
Trago esse relicário
Atado ao peito
Em pontos cheios
E assim te preservo
Para te perder um pouco mais
A cada dia.

*

Esse amor retesado no peito
Penitência clara
Cheio de vincos
De estrias e vigas velhas.
De musgos alardeando
Histórias semi-esquecidas

Esse amor carcomido
Sem dotes, sem pecha
Sem dom, sem batismo

Trincado no vidro
Fadado na alma
Abatido prematuro
a tiros

Esse amor que gostaria de ter nascido.

Uma lua só para mim

Esses últimos dias foram mais solitários do que de costume. Pois tive enxaqueca e dores no estômago – tudo isso por devorar um pacote inteiro de amêndoas carameladas. Quinta-feira e sábado foram os dias em que pus os pés fora de casa, neste último, apenas no intuito de ir deixar minha tia no aeroporto.

No dia 7, ignorando completamente a tolice do feriado pátrio, fui a um compromisso já bastante adiado: ver a exposição de arte cubana no CCBB de Brasília. Gostei bastante dos quadros, tão cheios de vermelho, negro, amarelo, dessa coisa independente e desgarrada, e ao mesmo tempo tão comprometida com a realidade que a cerca, que parece estar na alma do povo cubano. É um prédio lindo, moderno. Apesar do Niemeyer (não o acho ruim, mas, sim, esdrúxulo demais uma cidade inteira projetada por um arquiteto moderno. É como ter a casa repleta de telas da fase cubista de Picasso nas paredes. Excesso cansa, angustia... e o Niemeyer é muita angústia de concreto pro meu gosto)...

Mas o prédio do CCBB é lindo, sim. É integrado com a natureza. Com laguinho artificial em volta e esculturas da Tomie Ohtake no jardim. Ao escurecer, surgiu uma lua enorme, alaranjada... Dessas cheias de tirar o fôlego, que alteram as marés e os 80% de água do corpo da gente, elevam os ânimos e fazem os/as malucos/as atirarem pedras em sua direção. Eu lamentei não ter uma câmera para fotografar.

Era uma coisa única aquela visão ali, de onde estávamos – eu e minha amiga -, sobre a paisagem de lago, antúrios e esculturas modulares brancas. Sentamos enquanto esperávamos o ônibus, observando os casais que se aproximavam e apontavam – ora com suas máquinhas fotográficas, ora com aquelas caras de tontos, achando que ela existia só por causa deles. Eu podia ler seus lábios: 'olha só a lua, que linda!...' E eu, tola, vendo a minha lua se desmistificando - queria que fosse só minha... vejam só, que egoísmo! Acho que a solidão tem dessas mesquinharias...

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De resto, a vida segue... Vi uma overdose de telecine este fim de semana. Assisti Annie Hall duas vezes - mais um filme apropriado por mim e tornado biográfico. O monólogo final é fantástico. Ele fala de um cara que vai ao psiquiatra queixando-se do irmão que pensa ser uma galinha. - Livre-se dele, recomenda o psiquiatra. - Não posso, preciso dos ovos, responde. Allen conclui que com os relacionamentos é a mesma coisa: por mais confusos e absurdos que sejam, a gente insiste em se apaixonar, afinal, precisamos do ovos...*
Gênio, esse cara. La di dah...

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Tenho um presente bonito precisando viajar até uma pessoa querida...mas que ainda não teve chance de chegar ao correio...

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E pedi a alguém especial que me enviasse fotografias das orquídeas do avô por email. Tenho planos para elas, porque são as mais bonitas que já vi. Se der certo, uma delas vai estar sobre minha pele, logo, logo... :P

* achei o texto original: “I thought of that old joke, you know, this guy goes to a psychiatrist and says, ‘Doc, uh, my brother's crazy. He thinks he's a chicken’. And the doctor says, ‘Well, why don't you turn him in?’ And the guy says, ‘I would, but I need the eggs’. Well, I guess that's pretty much how I feel about relationships. You know, they're totally irrational and crazy and absurd and... but, uh, I guess we keep goin' through it because, uh, most of us need the eggs.”

se minha vida, hoje, fosse um musical...

esta canção seria parte da trilha...

Send in the Clowns
Steven Sondheim

Isn't it rich?
Are we a pair?
Me here at last on the ground,
You in mid-air.
Send in the clowns.

Isn't it bliss?
Don't you approve?
One who keeps tearing around,
One who can't move.
Where are the clowns?
Send in the clowns.

Just when I'd stopped opening doors,
Finally knowing the one that I wanted was yours,
Making my entrance again with my usual flair,
Sure of my lines,
No one is there.

Don't you love farce?
My fault I fear.
I thought that you'd want what I want.
Sorry, my dear.
But where are the clowns?
Quick, send in the clowns.
Don't bother, they're here.

Isn't it rich?
Isn't it queer,
Losing my timing this late
In my career?
And where are the clowns?
There ought to be clowns.
Well, maybe next year.

Dá para ouvir aqui.

Três finais

Esse fim de semana fiz ficha na locadora aqui perto. Considerando que há um mês e meio estou aqui, acho que é o prazo. Para se ter ficha na locadora. Mas não era sobre isso que queria falar. O que acontece é que tenho um amigo que me indica filmes e pergunta se já os vi. Bom, indicar não é bem a palavra. Ele intima. Tipo, ele é bem persuasivo. E insistente. Então, há um ano ele me perguntava. Sempre. Se já havia visto Cold Mountain. E eu ficava meio sem jeito...mas a resposta era sempre não. Não tinha cara para contestar e explicar que este não é bem o meu tipo de filme...e ele falava muito apaixonadamente da história. Quando começávamos a conversar no msn, antes de mais nada, eu advertia: “não, ainda não vi Cold Mountain”... Mas, esse amigo é muito querido. É o que chamam de pessoa sui generis. Não existe outro igual. Por exemplo, não conheço mais ninguém nesse mundo que tenha conhecimentos enciclopédicos sobre concursos de miss. Nem outra pessoa cujo grande dote culinário seja fazer churros com recheio de doce de leite. Junte a estes ingredientes um sarcasmo fora do comum e um excelente gosto cinematográfico: eis a pessoa inigualável de quem falo. Por isso é tão querido. Por isso eu corri na sexta-feira e fui alugar Cold Mountain. Pois não podia mais me sentir em dívida com ele... E também vi outro, de sua indicação. Um donut britânico... “Querido Frankie”. Para encerrar, aluguei uma indicação indireta dela. E...amei. O assisti em ótima companhia, aproveitando um convite para um almoço de domingo, com direito a uma deliciosa lasanha de caixinha (adoro lasanha de caixinha).
O interessante desses três filmes é que me advertiram de que os finais eram frustrantes...engraçado porque não achei...

Cold Mountain
De fato, depois daquela espera fastidiosa, de algumas situações nonsense no meio do caminho e todo aquele sangue suor e lágrimas... é cruel que tudo tenha se resumido a 1 noite só. Mas, como, em termos de guerra civil americana, o parâmetro para essa produção hollywoodiana é “E o vento levou”... não dava para esperar outra coisa a não ser um final onde as personagens femininas fossem preponderantes. Reneé Zellwegger é a caipira arquetípica. Nicole Kidman está perfeita no papel que melhor sabe fazer: o de mulher mais linda do mundo. Jude Law – se não tiver usado dublê de corpo – tem o bumbum mais escandalosamente perfeito e exuberante do cinema. E Natalie Portman só precisa de alguns minutos de filme para roubar completamente a cena. Claro, chorei cântaros, do começo ao fim. Lindo.

Querido Frankie
Um docinho esse filme rodado em Glasgow. (Lindas paisagens portuárias. Lindas tomadas sobre o mar). Sobre um garoto surdo de nascença que troca cartas com o pai, marinheiro viajando o mundo à bordo de um navio pesqueiro. Na verdade, a pessoa por trás das cartas é a mãe dele, uma mulher jovem e solitária, de grande imaginação que quer proteger o filho da sombra do homem violento com quem conviveu no passado. O conto de fadas vai bem até que o jornal noticia que o tal navio irá aportar na cidade. A moça se apressa em alugar um pai para não acabar de vez com os sonhos do menino. O roteiro tem uns furinhos. Tipo, o pai alugado é perfeito demais. Podia ser um pouquinho menos. Já brinquei que quero saber quanto custa um fim de semana com um daqueles, pois a minha gata e o meu cachorro andam muito carentes. Hehehe. Gerard Butler é um charme. Aff. O final é super bonito e nada óbvio. Lógico que não vou contar. Mas é muito singelinho e sem moral. Apenas a vida. Uma história de amor em família.

Contra a parede
Ela falava de um jeito super instigante desse filme. Eu assisti e era como se já conhecesse aquela história de perto. Não falo das circunstâncias. Mas dos sentimentos. Do encontro de sobreviventes. Que fazem pouco caso desse mundo porque não se sentem mais parte dele. Daquele carnaval de sentidos. Do gosto agridoce que mistura encantamento, vertigem, posse. Nessa ordem. Eu sabia que ‘aquele’ seria o final. Já o conhecia. Para mim é bastante razoável compreender que há pessoas que encontram complementaridade e estabelecem laços de amor vindos de um instinto de sobrevivência. Mas, desde logo, fica claro que eles não se pertencem. E a vida segue outros cursos. Quando, enfim, libertam-se da fúria autodestrutiva, precisam recomeçar sem nenhum vestígio de passado.

quinta-feira

6 7 coisas inéditas sobre mim...

A Mani me pediu para contar 6 coisas que ainda não tivesse mencionado no blog, Infelizmente não há nada de inédito comigo. Tudo velho, para variar. Daí reciclei um pouco o “mais do mesmo” que sempre acaba reverberando por aqui, tentando revelar alguma faceta oculta... As seis coisinhas ficaram gigantescas (há três ou quatro outras, dentro de cada) espero que ela fique satisfeita!... A recomendação é de que, quem gostar e tiver vontade, repita o exercício.

1. Meu ar slow motion. Sou lentidão pura. Tenho a precisão de uma tartaruga para caminhar com a vida. Penso devagar, falo devagar (algumas pessoas se enervam muito com isso, demoro muito a terminar sentenças, às vezes simplesmente não termino), ajo lentamente na maioria das ocasiões. Adio decisões interminavelmente... No entanto, a lentidão, no meu caso, não é nenhum sinônimo de prudência. É lerdeza mesmo. Para fazer bobagens costumo ser rapidinha...

2. Só. Sou solitária por natureza. Em ônibus e filas de banco. Em cinemas, igrejas, shopping centers. Entre multidões, obviamente. Mesmo entre amigos chegados. Mesmo em festas. Mesmo a dois. E especialmente em reuniões de família. Tenho um sentimento que aos poucos defini como estranheza. Acho que é muito comum nos dias de hoje, vejo-o citado por outras pessoas. E não tem nada a ver com o isolamento ou fobia social. Sou tolerante e me afino facilmente às pessoas mais diversas, adoro rir, brincar e conversar. Adoro ser convidada para os programas mais distintos. De ir ao cinema a cair de boca numa montanha russa (claro, boates, vaquejadas e shows sertanejos, passo). Mas, no fundo, estou sempre só. (Acho que todo mundo que já leu esse blog meio que já sacou isso, mesmo assim, não quis perder o tom confessional).

3. Sem lenço nem documento. Há uns três anos (talvez um pouquinho mais) não faço assinaturas de jornais e revistas porque não tenho endereço fixo. Perdi contato com alguns amigos/as a quem escrevia cartas por ter passado tempo demais sem saber o que colocar ali embaixo de onde está escrito "remetente". A fatura do meu cartão é debitada na conta corrente para desatar um dos nós do imbróglio. Venho morando em lugares que não são meus e em cidades que não são minhas. Mas a verdade é que nunca tive um sentimento de pertença. "O céu é meu teto", brinco. E daí os amigos me chamam de cigana, nômade e etc. Isso tem se tornado crônico ultimamente. Tenho medo de estar endoidecendo, às vezes, com essa necessidade de ir embora que não cessa. Não é algo repentino, aos 17 anos saí da casa dos meus pais. Que já não era minha. E ainda não encontrei aquele lugarzinho que pudesse chamar de lar. Isso não chega a ser inédito – já que esse blog praticamente gira em torno de minhas queixas e esta é uma delas.

4. Nada de chapinha. Durante toda a vida (até bem pouco tempo) achei que tinha cabelo liso e queria, em vez disso, ter cachinhos. Queria uma juba indomável dessas que a gente puxa para trás e prende na tiara. Nos coroando, nebulosa, meio medusa. Sempre me descrevi como baixinha, pele clara, cabelo escuro, liso. Agora isso mudou. O paradigma de cabelo liso já não é mais aquele. Hoje, sou uma rebelde, praticamente. Descobri isso quando a sogra do meu irmão insistiu comigo para que eu fizesse uma escova progressiva. "Seu cabelo vai ficar liso de verdade", disse ela. Gostei da sensação de transgressão. Agora estou geneticamente fora de moda. Hehe.

4. 5.Eu uso óculos. Uso sim. Hoje mesmo vou pegar meus dois pares novos. Estava há uns dois meses sem, sentindo a diferença. Faz falta. Dessa vez fiz um sobressalente, de antemão. Um de acrílico, branco. O outro numa daquelas armações metálicas em que a lente fica presa apenas nas extremidades. Eu gosto, fico com cara de inteligente. Já percebi que as pessoas me respeitam mais quanod estou de óculos. O criador do Clark Kent sabia das coisas...

5. 6.Gosto de cozinhar. Aliás, adoro. Não tenho disciplina nem organização para colecionar receitas, mas tenho algumas de memória que sempre fazem sucesso. Adoro fazer saladas, molhos, receitas vegetarianas. Adoro a textura de alguns legumes e a cor de condimentos específicos (o amarelo do curry, UAU).

6.7. O que eu quero ser não existe. Quando eu tinha doze anos queria ser jornalista. E queria muito, muito mesmo. E continuei querendo por um longo tempo. Daí fiz vestibular, passei e, depois de descobrir o que realmente isso significava, o querer foi desfibrando. Até se transformar em mal-querer. Ultimamente, quase ojeriza. Adoro escrever. Mas não gosto de trabalhar em redação. Fico feliz em estar fazendo assessoria por uma boa causa, mas “prazer no que faço” que é bom... tá difícil... Fiz mestrado pensando que talvez meu lugar estivesse mesmo na sala de aula, mas agora já não tenho tanta certeza... Infelizmente, ganhar a vida e pagar as contas, essas coisinhas banais, também estão na minha pauta do dia, como na de todo mundo. E as pessoas costumam dizer que não me vêem fazendo outra coisa. (Uma forma delicada de falar que eu não sirvo para nada mesmo). A essa altura já não queria mudar de profissão (nem me ocorre nenhuma da qual eu pudesse gostar realmente). Fico tentando inventar ocupações visionárias, capazes de me fazer feliz. Infelizmente, nenhum dos meus talentos rende dinheiro. Ninguém emprega poetas e artistas sempre estão na pindaíba. Quem tiver alguma idéia milionária sobre como extrair dinheiro de minha vocação, manda um email, please. ; )

atualizando: só agora notei que em minha lista de seis há dois itens no. 4. Devia agora acrescentar um oitavo, para dar conta da minha desatenção.

domingo

Caixinhas de pixels

Há presentes que chegam em caixas. De porcelana pintada. Bordadas de pedraria. Reluzindo madrepérola. Com fitas, fendas, dobras. Contêm a maciez do açúcar, o perfume dos guardados, a cor terna das folhas velhas.

Há outros que chegam em arquivos lacrados nas caixas de emails. Mas carregam a mesma intenção secular do carinho. Derramando flores nas lonjuras que atravessam, cortando caminhos espessos, conduzidos por um fio.

Tenho recebido muitos destes. De pessoas tão amorosas e queridas. Que nem sei se mereço tanta delicadeza. O mais recente veio da menina mais doce desse mundo. Uma canção que faz a gente levitar feito pluma levada pelo vento. A “coisa mais linda”, como ela mesmo definiu.

Quando Beatriz e Caiana te perguntarem, Dionísio,
se me amas, podes dizer que não.
Pouco me importa
ser nada à tua volta,
sombra, coisa esgarçada
no entendimento de tua mãe e irmã.

A mim me importa, Dionísio, o que dizes deitado ao meu ouvido
e o que tu dizes nem pode ser cantado
porque é palavra de luta e despudor.
E no meu verso se faria injúria
E no meu quarto se faz verbo de amor.

(Poema V de Ode Descontínua e Remota para flauta e oboé..., de Hilda Hilst - Mágico na canção de Zeca Baleiro e na voz de Ângela Ro Ro)

Cenas de aeroporto

Ontem fui encontrar outra natalense que vive em Brasília. Irmã de um colega da faculdade e também jornalista. Ela está aqui há três anos, é assessora de imprensa de quatro aeroportos. Caiu no planalto de pára-quedas, não escolheu vir viver aqui. Uma boa classificação num concurso com o prazo prestes a esgotar a fez tomar a decisão de mudar radicalmente. Ela me disse que teve menos de 24 horas entre a dúvida e o sim.

Pensávamos em ver um filme ou ir a uma exposição (tem uma maravilhosa, sobre arte cubana). Mas acabamos visitando a feira do livro e nos permitindo algumas horas de conversas. Daquelas labirínticas, em que um assunto leva ao outro e os fios vão se entrecruzando num novelo. Muitas histórias. Falamos dos livros infantis que desejamos escrever, do mundo cada vez mais visual que nos fisga pelos olhos, dos quadros de Gustave Klimt, de poesia, desse desejo de escrever de forma clariceana (como se realmente fosse fácil), da solidão, trajetórias, destinos, da crença de que nada é por acaso, das teorias pessoais que criamos para nos proteger e aprender com a vida. De ilusões, desilusões. E de amor, claro, assunto irrevogável em todas as longas conversas.

Comentei com essa moça adorável que trabalha no aeroporto o meu sentimento sobre as "cenas de aeroporto". Ultimamente tenho presenciado muitas. Os amores despedaçados nos saguões, as lágrimas, os corações partidos. E, de outra sorte, o emaranhado intenso dos amantes. No choque dos corpos ansiosos para se tocarem depois de uma longa espera - o brilho dos olhos saltando no rosto, os fôlegos se amparando boca a boca.

Há uma teatralidade visceral nesses gestos. Real, atávica, um rito espontâneo: os encontros e desencontros que atam e desatam tudo nessa vida.

É encantador ver o sentimento virar espetáculo – por ser uma ação totalmente desprovida da vaidade consciente de quem encena, ausente de consciência da observação. Eles estão presos demais um ao outro para se saberem identificados na multidão. E é linda aquela visão do “eu te amo e o resto que se dane”.

E eu dizia a ela, que concordava comigo, que eu queria um pouco disso, qualquer dia desses. O sentimento do encontro abalando as minhas pernas. Pois das despedidas já sei o bastante.

Pílulas

_Alguns exercícios para driblar a insônia

Sonambulia

a gota d’água, silente,
espera.
quase jorra
quase geme
quase sente

e, nesse instante,
arde
para sempre.

Cortes

Na visão da fragilidade
me fortaleço
Preciso enxergar as feridas abertas
Para assoprar onde dói.

Garras

Uma ave de rapina
Carrega, preso às unhas,
o meu coração
pressinto a queda repentina

- numa clareira mansa
ou no olho do furação?

Ímpeto

há momentos
em que meus dedos
teimam em dedilhar
as teclas
que pertencem
ao teu número.
mesmo sabendo que ele já não existe.

terça-feira

O outro como a nós mesmos...*

Nesses tempos em que tudo parece errado a nossa volta, a única solução que vejo é pararmos de exercitar a outridade. Não, o errado não está fora. O medo não vem do outro. Nesse arquipélago imaginário, onde nos ilhamos no simbólico do dinheiro, da idade e da cor, não somos nós – que tememos pela invasão de nossas casas, que choramos quando um moleque nos carrega a bolsa ou enfia um revólver pela brecha do vidro do carro, que berramos de agonia quando arrombam nossa fechadura – os maiores atingidos.
Nós ainda temos o mínimo. Um teto. E essa pretensa condição de ilha.
Para cada mulher loura que tem a corrente laçada pelo pescoço, há milhares de crianças negras não alfabetizadas...
Para cada homem branco de gravata que tem sua carteira roubada, há mães que perdem cinco, seis filhos, vítimas das redes de tráficos - que não, não são sustentadas por meros consumidores, mas por toda uma teia social de um estado que permite que o autoritarismo de uma legislação figurativa seja argumento mais forte que a vida - que já nem sabem mais a densidade atingida pela dor. Extintas de qualquer rasgo de compreensão acerca desta realidade que as cerca.
Para cada surto de pânico que nos leva a um psiquiatra, há centenas de crianças que não chegam sequer aos doze anos. Catando comida no lixo, tendo seu sexo inocente posto à prêmio, ressequidas, sem afeto, sem educação, sem respeito, sem nada que lhes cultive uma alma com grandes vestígios disto que comumente chamamos de humanidade.
Para cada noite em que preferimos ficar em casa, há milhões de noites de mulheres desprotegidas em suas próprias casas, queimadas a ferro, seviciadas, espancadas, despidas de qualquer vestígio de dignidade por aquele que um dia lhes jurou amor. E inúmeros corpos que atravessam as noites, tocados, punidos e mutilados por quem lhes compra barato, sem saber quando poderão despontar para um novo dia.
Então, antes de choramingar no travesseiro, vamos vestir a carapuça.
Antes de acreditar no efetivo entusiasmo das doações de cestas básicas, do sopão no fim de noite, dos 10% na igreja, vamos nos sentir mais no outro. Eles somos nós. Afinal, quem chacinou nossos sentimentos? Quem bombardeou nossa identidade ao ponto de não deixar que ela mantivesse esse vínculo de igualdade? E se fosse o seu pai, sua mãe, seu filho? E se fosse você? Antes dos gritos de socorro, precisamos, mais que nunca, ser feitos/as de ouvidos.

* texto escrito em adesão à blogagem coletiva proposta pela Laura. Participem vocês também.

quarta-feira

Morangos.

É tempo de morangos aqui no DF. Nas esquinas dos lugares movimentados da cidade, há inúmeros vendedores empilhando as caixinhas repletas da fruta, vermelha e fresca, aguçando - por intermédio dos olhos - o mais desavisado dos paladares.

Quase todos os dias eu passo na quitanda do japa, voltando do trabalho, e compro ao menos duas bandejas de morangos. Prudente, espero chegar em casa para os lavar na água corrente da pia, mas o desejo que tenho é de degustá-los ali mesmo, em plena rua. Sentir já aquela polpa suave, açucarada, que não necessita de químico algum para deixar a vida menos amarga...

Antes de dormir, geralmente, eu abro um livro e me deito com minha tigela de morangos. É meu ritual de primavera. E vai durar o tempo necessário em que eles estiverem assim, em sua época de maior doçura.

E há todo um ritual nisso. Escolher os mais bonitos, transportar a embalagem, com o cuidado para que não se machuquem em ônibus lotado, depois caminhar até em casa com as bandejas no colo - duas quadras, ao todo - e lavá-los, um por um, sentindo a calidez de sua pele suavemente àspera na ponta de meus dedos.

Queria ter, para tudo na vida, essa mesma cautela que reservo aos morangos. Talvez, se não fosse tão intempestiva, conseguisse preservar alguns sentimentos, para que eles fossem tão livres e plenos quanto os morangos saboreados um a um, sem pressa. Ao menos não me sentiria assim, com essa indigestão de quem comeu uma fruta roubada. Remoendo a culpa de ter devorado uma tonelada de morangos de uma só vez.

sábado

Trocar de pele...

É a metáfora de minha vida. Tem sido assim. Sempre.
Quando trabalhei no jornal lembro de uma vez em que um diagramador me chamou de “inoxidável”. Achei engraçado, gratificante, o adjetivo. Quem conhece as manhas de uma redação vai entender o que ele quis dizer. Em agradecimento, escrevi um poeminha... onde eu dizia que não era inoxidável. Ao contrário. Por força da necessidade, arrancava as minhas escamas nos dentes: “trocar de pele todos os dias é o que me faz sentir inteira”- o último verso, o único que consegui guardar na memória.
Daí, descobri que eu tinha uma fórmula íntima para conviver comigo mesma... mudar de pele. Mudar de lugar. Para poder justificar o fato de me sentir estrangeira em todos eles, até em meu próprio corpo... Mudar de casa, de vida, de cidade, de emprego, de cardápio. Como se existisse em mim essa eterna predisposição a ir embora. Diferente das pessoas que ficam e fincam seus pés na terra. Constroem casas, encaminham vidas. Meu processo vital, até então, é seguir. E ainda não sei quando será preciso parar.
Aqui em Brasília tenho exercitado esta faceta um tanto bruscamente. E não falo de minha epiderme frágil e clara despelando sob o sol do cerrado. Mas da camada que sobreponho aos meus ossos para ser, convincentemente, outra.
Na cidade dos ternos, dos cabelos escovados e dos scarpins, eu aprendo o jogo cênico das condutas. Retiro a armadura do armário – pois todos/as precisamos de uma armadura uma vez na vida. E afio a minha lança. Reconheço algo em mim que eu deveria saber que existia. Meu yang adormecido, convivendo em paz com o yin, que sempre ecoou em overdose nos meus gestos. Fico grata por mim mesma e por essas escamas que andei deixando além, ao longo de um vasto caminho. Uma sensação de acordar refeita. Como um Buda que desperta do sono de um jejum intenso ao desvelar a face do seu medo.
Não quero ser definitiva nem me decretar curada. Mas, comemorar o prazer de não ter arrependimentos e sentir, depois de tanto tempo, o coração aberto. Brasília sorri pra mim, no azul límpido do céu em contraste com os flocos amarelos do Ipê. Uma cidade com asas e angústias feitas de concreto. Com a maior concentração de pessoas solitárias por metro quadrado do país. E, ainda assim, não me sinto sozinha. Sinto presenças invisíveis, cristalinas, extracorpóreas... uma força estranha tem esse lugar. Que nada tem a ver com o poder e toda essa sorte de complicações que ele necessariamente evoca.

Sim, agora entendo que esta pele, mesmo descamada e revestida, é, e sempre foi, inteiramente minha.

quarta-feira

in pieces

quadro de Maire Smith

Cada pedaço de mim que desvanece
Retêm um lume,
Em cada canto depredado meu
Uma nova viga
Entalho e intumesço
Refaço (des) começo
Perfuro os meus retalhos
E me alinho
Em pontos mínimos.
Não inteira
Mas refeita
Revivida.

o caos em mim...

Eu costumo dizer que odeio as pessoas práticas e metódicas. É mentira. Eu as invejo. Só isso. Por que elas evidenciam a minha incompetência em resolver questões simples de forma constrangedora. E me colocam na difícil situação de ter que ressaltar as minhas outras qualidades compensatórias, que justificam a minha presença nesse mundo mesmo em face da desordem que ocasiono em minha própria vida.

Eu sou daquelas pessoas que não suportam planejamento, odeiam conferir conta de restaurante, desistem de preencher formulários (odeio burocracia, odeio!), juntam cupons fiscais no fundo de uma gaveta por desencargo de consciência sem jamais utilizá-los para outro fim que não seja o de forro de gaveta, acham o “saco dos sacos” ter que ligar para reservar o que quer que seja, põem tudo no débito em conta para não ter que enfrentar filas de banco, chegam a desistir de algo que querem muito se alguém menciona palavras como “boleto bancário” (“empréstimo”, então, me dá calafrios e sudorese, argh!) e só compram pelo correio no último dos últimos dos casos, quando a necessidade é a mãe de todas as iniciativas.

Agora, por exemplo, preciso fazer malas, encaixotar coisas, descartar outras, imprimir textos, fazer back-ups, escrever emails decisivos, ligar para pessoas que tenho que ligar, ou seja “efetivamente efetuar” uma série de medidas que irão tornar a minha vida mais normal nos próximos dias. Mas quem disse que consigo? As formiguinhas ficam mordiscando na cabeça quando penso nessas coisas chatas. Protelo tudo e o quanto posso. Acabo acordada durante toda a madrugada anterior à viagem, fazendo às pressas o que levaria um tempo considerável para ser feito decentemente.

O meu mundo perfeito seria aquele em que ninguém demandasse organização de ninguém e todas as pessoas vivessem alegres e respeitando uma o espaço da outra, na harmonia cósmica do caos. Isto ou... ter dinheiro suficiente para pagar uma governanta suíça que passasse minhas roupas com água de colônia, fizesse prontamente as minhas malas, encaixotasse e etiquetasse meus livros e CDs - ordenando-os em embalagens práticas, de preferência compartimentadas - levasse e buscasse os casacos na tinturaria, pregasse botões, fizesse todas as ligações que tenho que fazer e mandasse os emails que tenho que mandar e organizasse uma agenda que nunca me deixasse cansada, enquanto eu estaria preparando o meu espírito para a mudança, distante de qualquer banalidade, ouvindo música clássica e recebendo shiatzu em meio a uma sessão de aromaterapia...

Sabem como é... esses deliciosos sonhos da burguesia, tão apetecíveis a quem não pode.... por isso novela do Manoel Carlos faz tanto sucesso.

Desejem-me sorte, vou postar menos por uns dias, as mudanças geográficas costumam levar nosso tempo embora...assim que a órbita voltar ao seu eixo, retorno.

Em busca do homem sensível

Se o amor é uma coisa que se aprende, creio que as pessoas de minha geração foram ensinadas a ter quereres um pouco acima da média, então. Nesse mundo pós-anos 80, com seus rituais efêmeros, sincréticos e recicláveis, o amor foi destilado em muitas línguas e cores, para tornar-se palatável a olhos e ouvidos tão inclinados à fugacidade. O amor virou pastiche de si mesmo, ecoando entre um frame e outro de um videoclipe. Estamos condicionados a trocar de amor tão rápido quanto fazemos zapping.

Mas não era disso que queria falar. Queria tentar partilhar a minha inquietação com uma das construções dessa cultura pós-moderna do amor: o homem sensível. Eu cresci consumindo a sua figura. Um dos legados pós-80. Na época, eles eram Dustin Hoffman, Al Pacino e Wood Allen, baixinhos e de óculos, em cenas de choro e monólogos de demonstração de fragilidade.

Contrapunham-se à imagem do macho dominante, brigão e arrebatador (como Clarck Gable, cínico e sedutor, roubando beijos de Scarlett O’hara)... Não dava mais para esses tipos conviverem lado a lado com mulheres de terno, working girls, cada vez mais incisivas rumo ao mundo dos negócios. Daí, cunharam expressões como “ocaso masculino”, dentre outras. É incrível como a construção de certas personagens são pertinentes à época em que emergem.

Eu lembro do apelo exercido pela capa do livro de Anais Nin, na prateleira da biblioteca da universidade: “Em Busca do homem sensível” - não confundir com essa leva de auto-ajuda para mulheres, tão comuns hoje -... eram crônicas e palestras da escritora. Uma delas falava desse novo homem, que surgia das alternativas de convivência propostas pela geração hippie, não lembro das palavras exatas com as quais ela descrevia, mas sim de alguns exemplos, como o de um jovem casal que viajava de moto pelo país, partilhando da pouca comida e das dificuldades. Nin exultava essa mudança de paradigma masculino como uma conseqüência das revoluções sociais, sem manipular nem puxar a sardinha para o mito do protagonismo das mulheres, as “invasoras” do mundo público de então. Para ela, o homem sensível não era simplesmente um macho ferido, mas alguém capaz de caminhar lado a lado, ciente das desigualdades...

Cá com meus botões, me pergunto se não sou da geração que enxergou no “homem sensível” um novo rótulo do príncipe encantado. Pela formação que recebi, posso apenas ter resignificado os clichês do amor romântico, fiz planos com eles, me apaixonei pelos personagens nos filmes em que via... na maioria das vezes não deu certo, porque os rótulos, infelizmente, boiam n’água ou despelam sob temperaturas mais agudas... À primeira crise, se desfazem...bye.

Sinceramente, tenho a sensação de que a maioria dos homens não se esforça em ser mais do que é... não se preocupa em cativar, surpreender, em fugir do lugar comodamente comum do macho dominante. Se a sensibilidade casualmente acontece, ok. Se não, tudo bem.

Vou explicar: não acho que um homem mereça palmas por ser minimamente educado ou gostar de cinema, isso é legal, se acontece, mas eles agem como se, cumprido o clichê, pronto, tá de bom tamanho. Se comportando como se apenas o fato de existirem fosse um grande favor, um serviço prestado à humanidade com a população feminina excedente. Não se trata apenas de estar presente. E o amor? Não a sensibilidade das citações, frases feitas, mas e os gestos espontâneos? Amabilidade e a gentileza não se arrancam, se dão. E eu sou chata e exigente. Demais. Impiedosa, quase.

Fico me questionando até que ponto Anais Nin tinha razão. Ou se foram apenas os filmes, músicas e livros que li que me lançaram numa expectativa além da conta. Porque...confesso, não tenho paciência para os não-sensíveis nem vejo muita graça nesse vai-e-vem nauseante das relações líquidas - reluzem como uma gota d’água por um lampejo de segundo, mas logo se espatifam na placidez do oceano, retomando uma busca contínua, que não cessa...

Talvez eu seja apenas pessimista. Talvez não tenha tido sorte. Talvez a busca tenha apenas começado. Quem saberá responder?... Espero mesmo que seja apenas o incômodo dos calos em meu desiludido cotovelo.

quinta-feira

In the Mood for Love

Sim, como a Camille, também entrei na onda do Youtube... Posto o trailer de In the mood for love (em português Amor à flor da pele), vi esta semana... Nada pode ser tão arrebatador quanto. As cores exuberantes fulgurando na penumbra, a precisão dos atores, a trilha sonora que recria um clima noir, um perfume ocidental agridoce na atmosfera chinesa ambientada nos anos 50 e... a exata dimensão das impossibilidades do amor...É tão bonito que faltam palavras. Ainda estou pensando sobre ele, digerindo, devagar. Recomendável a todos os que choram com os versos de canções populares e conhecem a dor de guardar, para sempre, um segredo.

Janelas.

Outro dia comecei um diálogo com ela sobre janelas...

Daí me ocorreu que talvez janela seja a minha palavra favorita...
Gosto da grafia, do som – a mistura aguda do jota, com êne e ele. As rimas possíveis são bonitas. E, além de tudo, há uma simbologia vigorosa por trás de uma simples janela.
“Se Deus fecha uma porta, em algum lugar, abre-se uma janela”. Elas escondem portais mágicos... revelam frestas de vida para pessoas confinadas à clausura monótona de um quarto...
Para alguns, são o único contato com o mundo externo. Para outros, a única forma de diversão...
Quem caminhou alguma vez pelas paisagens sertanejas, irá lembrar da imagem repetitiva das mulheres de todas as idades se debruçando nas janelas... idosas com o olhar profundo, jovens mães, tendo filhos pendurados na cintura, garotas de banho tomado e vestido novo, à caça de pretendentes que possam transportá-las daquele ambiente doméstico ao alheio mundo “lá fora”...Remontando à herança simbólica dos romances de cavalaria, da donzela que jogava as tranças ou as cordas janela abaixo, para partir ao encontro do amor.
Em culturas patriarcais como a nossa (sobretudo na zona rural), as janelas são os olhos das mulheres, filtram e enquadram o que podem e devem ver... por isso é tão comum observá-las tomando conta daquele território com seus olhares insistentes, a vasculhar as novidades que passam e seguem...enquanto elas ficam, a sós com seus desejos...
Lembro também do filme Mar adentro, no qual o protagonista, paraplégico, passava os dias em sua cama. De uma ínfima janela sequer podia avistar o mar, mas adivinhava a sua proximidade, logo ali, adiante. Este era um dos poucos alentos de seus dias... a luz esmaecida do dia claro penetrando o ambiente, permitindo-o alçar vôos panorâmicos até a praia de seus sonhos.
E são as janelas milionárias de Bill Gates que nos permitem diminuir distâncias e tangenciar horizontes tão diferentes, num vôo tão mágico quanto o imaginado pelo personagem do filme – não quero soar como uma romântica adepta da filosofia da comunidade virtual global , sou consciente de que se recriam outras fronteiras, mas, que o nosso o mundo está ficando a cada dia mais pequeno, isto está. Entretanto, como em todo confinamento alumiado por uma brecha sinuosa, este também tem as suas desvantagens...
É... janela para mim é um vocábulo capaz de ascender uma luz no fim do túnel... mesmo conhecendo o seu avesso mais daninho, resta o desejo pelo desconhecido, pelos caminhos escondidos no além onde cada horizonte termina.

quarta-feira

prece em noite quente.


Como assim, medo do porvir?
Eu não.
Ao contrário.
Não vivo sem o desconhecido.
Precisamos um do outro.
Traçamos limites tênues entreolhos.
Roçamos umbigos – estamos unidos por um mesmo fio.

Preciso que ele me obscureça. Me guarde. Me guie.
Porque sou selvagem e troco de pele.
Porque sou lenta e preciso que o tempo me desvire o avesso.
Porque todos os apelos me regem, governam e iluminam.
Sim, eu preciso ir.
E, se não for agora
Será logo ali
Onde ele habita
Esse todo nada.
Essa fome
Esse não sei quê
Que existe junto a mim
E me leva pela mão.

segunda-feira

"If living is seeing/ I'm holding my breath/ In wonder - I wonder/ What happens next?/ A new world, a new day to see..." Bjork.

sexta-feira

sonhando com celebridades


Sim, eu tenho os sonhos mais estapafúrdios, mas ando preocupada com o crivo do meu subconsciente em selecionar espécimes machos para ilustrarem minha paisagem onírica.
Há uns meses sonhei que tinha engatado um romance tórrido com o George Constanza, da série Seinfeld. Eu lembro que, além de ele ter me tocado (em sonho) com seu lado sensível e desprotegido, eu me sentia totalmente atraída por sua figura. Engraçado é que o personagem é símbolo do que há de mais disgusting na ala masculina.

Nesse meio tempo, creio que algo melhorei. Há dois dias sonhei que ia a uma reunião do A.A. (?!)(acreditem, eu até bebo uns dois copos de cerveja por mês, mas nada que justifique), e, lá, dou de cara com o Robert De Niro (neste sonho mais jovem, na faixa dos 40). Imediatamente trocamos confidências e juras de amor, também movidos pela cumplicidade no fato de que ambos éramos alcoólatras. E eu ficava pensando "uau, eu peguei o Robert De Niro, isso sim é homem!".
Detalhe: eu não gosto do De Niro - nem como ator - menos ainda agora, que ele virou uma paródia de si mesmo. Carcamanos grosseiros e com pinta de cafajeste nunca foram o meu ponto franco. Ou seja, inconsciente também sou péssima para escolher homens. E a reunião do AA, então? Como diria uma amiga minha: "É freud."
Meu consolo é que, se em alguns meses a seleção do meu subconsciente evoluiu do Constanza para o De Niro, até o Natal, com muita reza, estarei sonhando com o Jake Gyllenhaal.

terça-feira

é difícil se sentir uma ilha em branco e preto no meio desse oceano verde amarelo de euforia.
esse sentimento de histeria coletiva intensifica ainda mais minha solidão.
é duro ser minoria.

domingo

Melancolia em tons de sépia



Paris, verão de 1887

Meu caro Théo,

Sinto-me triste, pois mesmo em caso de sucesso a pintura não renderá o que custa.
Fiquei comovido com o que você escreveu de casa: “Eles vão bastante bem, no entanto, é triste vê-los”.
E, contudo, há uns doze anos, juraríamos que apesar de tudo a casa continuaria a prosperar e tudo iria sempre bem. Seria um prazer para a mãe se seu casamento desse certo, e, por sua saúde e seus negócios seria melhor você não ficar só.
Eu sinto passar o desejo de casamento e de crianças e em certos momentos fico bastante melancólico por me sentir assim aos trinta e cinco anos, quando deveria me sentir totalmente diferente.
E às vezes odeio esta sórdida pintura.
Foi Richepin que disse em algum lugar: o amor pela arte nos faz perder o verdadeiro amor.
Acho isto terrivelmente exato, mas de encontro a isso, o verdadeiro amor faz perdemos o gosto pela arte.
E me ocorre sentir-me já velho e fracassado, e, contudo ainda suficientemente apaixonado para não ser um entusiasta da pintura. Para ter sucesso é preciso ambição, e a ambição me parece absurda. Não sei o que será, gostaria especialmente de viver menos às suas custas – e doravante isto não é impossível - , pois espero fazer progressos de forma que você possa, sem hesitações, mostrar o que faço sem se comprometer.
E de resto vou me retirar para algum lugar no Midi para não ter tantos pintores que me enojam como homens...
Vi Tanguy ontem, e ele pôs na vitrine uma tela que eu acabara de fazer, fiz quatro desde sua partida e estou com uma grande em andamento.
Bem sei que estas grandes telas compridas são de difícil vendagem, mas mais tarde as pessoas verão que elas têm vida e bom humor. Agora, o conjunto formará uma decoração de sala de jantar ou casa de campo.

Vincent.


*******

Comprei no aeroporto as cartas de Van Gogh ao seu irmão Theo. Fiquei um tanto frustrada com o texto seco do pintor, mas é ainda uma leitura interessante como exercício de compreensão do outro.

Van Gogh vivia em completo isolamento da racionalidade do mundo. Suas cartas eram longas descrições sobre cores, formas, natureza, arte, quadros. Ensimesmado em um universo interior tão rico quanto incompreensível aos que estão de fora.

Em minha interpretação, compreendi que ele não era louco. Apenas uma pessoa sensivel, que não se adaptava à realidade e por isso sofria com muitas e sucessivas crises de angústia, com as quais não sabia lidar.

Aquilo que chamam de loucura deve ter sido o preço para que ele pudesse mergulhar fundo numa obra tão densa, vasta e mágica quanto a que produziu em sua breve vida.

*******

Como não acredito nas totais coincidências, acho que andamos numa sintonia dramática de um retorno à melancolia. A cult traz matéria sobre isso esse mês.

Melancolia como estado afetivo fértil dos artistas. Preço alto, na maioria das vezes.

segunda-feira

fragmentos de dias aflitos

Os acontecimentos vandalizam minhas idéias.

Mas eu caminho, bamboleante. Ontem salvei uma libélula da alegria felina de minha gata, fazendo as vezes de caçadora. Quantas alegrias homicidas vemos por aí. Não a dela, instintiva e doce com seu brinquedo, encantada pelo frêmito esfuziante de asas. Mas, a dos predadores pensantes, que devoram corações e almas, e ainda palitam os dentes...

***

Pensei em todas as coisas que poderia fazer para mudar meu destino e nunca tive coragem... vamos começar pelo começo: ...Fiz uma lista de desejos.

***

Me matriculei numa academia. Queria aulas de yoga, mas fiquei na espera.

***

Recebi flores e ternuras de um completo estranho. Certas estranhezas me agridem.
Gosto das gentilezas repentinas e acredito no afeto solidário. Mas há exceções. Há que se duvidar das boas intenções de um desconhecido desarvorado.

***

Ontem, também ontem, saí a caminhar na noite de uma cidade pequena e cheia de estrelas, queria beijos da lua.

***

Amanhã vou pra Belo Horizonte, trabalhar contra a vontade. Odeio viagens de afazeres, mas prometo curtir a paisagem...

***

Na cortiça um provérbio chinês irradia o obscuro do meu quarto: “A vida é cair sete vezes e levantar oito”. Tão real.

terça-feira

rotinas


O dia chega coberto de solidez
Eu me derramo
O que a vida exige
eu clamo.
Quem há de poder mais?

Acumulo fios de horas
Minha mente esculpe palavras
Natimortas
Na frágil tentativa
De significância

O que deito no papel
Ali jaz
sem intenção oculta
convicto de desvalor

Uma camisa de força
estende suas ataduras em torno
Dos meus braços:
Escrevo datas, horas
Enfeito argumentos de autoridade
com as tiras das aspas
Desfio
Prefácios e prelúdios
De coisa alguma...

Enquanto...

Meu coração
Se apassarinhando
Sonha em ser madrugada
E sair cantarolando

segunda-feira

cemitério de afetos


foto: Dan Baumbach

Algumas pessoas deixam de existir em nossas vidas bruscamente, como um golpe de machado. Sua última recordação acaba por ser a rispidez fria da lâmina.

Há pessoas que se suicidam em nossas vidas. Saem de cena soterradas pelo peso de gestos de uma tonelada de torpeza ou suaves palavrinhas fincadas como agulhas no coração.

Sem mencionar o pior dos apartes: a traição, aquela, que todos viram e você foi a última a inteirar-se.

Lembro de uma morte dessas nos meus arquivos. Sua ocorrência encontra-se registrada em algum caderno velho, lembrança longínqua que me diz: sim, houve tal pessoa, mas meu senso de sobrevivência a excluiu solenemente do universo.

O sentimento daquela existência torna-se um dejeto que por vezes orbita a consciência, nada mais.

(Quando isso acontece, uma certeza: tratava-se de uma presença superficial, aquela que se apresenta apenas quando lhe convem ou necessita algo, sem cavar brechas para enterrar as miudezas, as jóias do cotidiano, o único que pode ficar da história de qualquer relação, seja de amor ou amizade, perdida.)

Tenho fantasmas que, se encontrar na rua, irei jurar que é apenas manifestação de mediunidade.

Há pessoas que se matam aos poucos, vão convalescendo, se distanciando um milímetro a mais a cada dia. Estas deixam lembranças que equivalem a um cartão postal ou um retrato na parede.

Há os que se matam com a indelicadeza da rejeição. Telefonemas não atendidos, emails não respondidos. Um belo dia constatamos que não existe mais qualquer vínculo que justifique a sua sobrevida.

Há os amores que insistimos em manter vivos. Entubamos, acoplamos aparelhos modernos, injetamos nosso próprio sangue, abrimos o peito e massageamos o coração. Até a dor daquele sofrimento prolongado se consumar, em falência múltipla dos órgãos ou eutanásia. Agonia insustentável. É uma das poucas mortes sentimentais para as quais reservamos um fio de esperança de ressurreição.

Hoje constatei que carrego em mim um cemitério de afetos vencidos.

sexta-feira

Belos dias


Fotografia de © Alinari



Transcrevo aqui uns versos de minha avó Luzinha, que aos 94 anos se descobriu poeta. Ela escreve reto e simples, desta altura da vida.

Hoje o sol está lindo
os pássaros alegres a cantar
o dia parece longo e infindo
Espero ansiosa vê-lo passar

Estou com idade avançada
E o passado bem distante
Através da janela do 2o. andar
Vejo o vai e vêm dos carros
em disparada
Ao lado da praça ajardinada

Através da janela do quarto
vejo os ramos a balançar
Não sei que dia eu parto
Estou sempre a divagar.


Luzia Dantas, 12 de abril de 2006.

quinta-feira

Terra estrangeira





fotos: Abbas Kiarostami

Me perco numa paisagem de Kiarostami. Areias espessas. Imagens negativas. Entre o granulado da areia, a estrada intermitente, uma árvore rota, voragem. Memórias silentes do porvir. Solidão introjetada numa fotografia em branco e preto. Sobre suas fotos, ele diz: “um profundo sentimento de inadequação”.
Assim como eu. Minha paisagem é esta. Nuvens imensas me inundam, quase ausentes de desejo e de sentido. O que compele à vida? Nesse mundo árido, derramado de sóis? Qualquer dia, qualquer um, nesses lugares tingidos de cinza que borraram meu rosto. Nesse anjo de concreto de asas mudas.
Meu pensamento permite-se, mas não ousa. Haverá fendas, foguetes, trilhas? Ainda não sei. Meu coração, não. Não é uma ilha.

Meu coração é uma estrada de Kiarostami.

sábado




fragmentos dos diários de Frida Kahlo.
Correspondência via email, advinhando as linhas de minha alma.
A certeza de que apenas a arte salva, nesses tempos de fúria.

quinta-feira

este foi o meu pior template de todos os tempos. e como acontece com as pessoas rabugentas, eu emburrei. não estou gostando de olhar na cara do blog. vou colocar qualquer outro modelo e depois penso a respeito.

Adicionando: Este template atual não é o que critico no post. Já mudei. Inconstâncias, incostâncias...

sábado

Ain't got no blog. I got life.

Ain't got no. Lembro desta canção na voz de Treat Williams, em Hair. Era muito garotinha quando vi o filme na TV. Lembro da cena em que o hippie faz uma espécie de strip tease - tudo com um fundo ideológico, óbvio, mas não havia como esconder o quão sexy ele era - em cima da mesa armada da burguesia.

Acompanhava a letra nas legendas em português: "Não tenho casa, não tenho sapatos, não tenho dinheiro ou classe. Mas tenho alma, coração, vida!".

Depois disso, a performance virou clichê, repetida em milhares de versões, já pasteurizou, espremendo suco no caldo do consumo, até trilha de comercial da Audi emplacou. Uma pena. Tudo aquilo parecia um festival de liberdade. A essa altura tornou-se fábula? Não. Não quero parecer pessimista. Da ideologia tenho meus entraves, mas a letra não perde a força.

Ainda mais que está nas antologias musicais da Nina Simone e aí ganha outro viés em seu conteúdo de anárquica rebeldia.

E não é à toa que a escolho para inaugurar minha vida nova de blog novo.

Já tendo passado por tantos, cada novo experimento vira uma viagem com mochila nas costas. Com aquela certeza de que não tenho muita coisa mesmo, nada que não possa ser deixado pelo caminho, a não ser minha alma, meu fígado, meu coração. Estes continuam comigo, passeando pela vida.

Ain't got no/ I got life

"Ain't got no home, ain't got no shoes
Ain't got no money, ain't got no class
Ain't got no skirts, ain't got no sweater
Ain't got no perfume, ain't got no beer
Ain't got no man

Ain't got no mother, ain't got no culture
Ain't got no friends, ain't got no schooling
Ain't got no love, ain't got no name
Ain't got no ticket, ain't got no token
Ain't got no God

What about God?
Why am I alive anyway?
Yeah, what about God?

Nobody can take away

I got my hair, I got my head
I got my brains, I got my ears
I got my eyes, I got my nose
I got my mouth, I got my smile
I got my tongue, I got my chin
I got my neck, I got my boobs
I got my heart, I got my soul
I got my back, I got my sex
I got my arms, I got my hands
I got my fingers, Got my legs
I got my feet, I got my toes
I got my liver, Got my blood
I've got life , I've got my freedom
I've got the life
And I'm gonna keep it
I've got the life
And nobody's gonna take it away
I've got the life"

imortal na voz de Nina Simone

sexta-feira

Qual diretor filmaria a minha vida


Ingmar Bergman
Your film will be 65% romantic, 33% comedy, 38% complex plot, and a $ 43 million budget.


Your life will be portrayed on film as an intense psychological drama, likely with some actresses screaming at the camera (Persona), or maybe a pleasant chess game between the Grim Reaper and a Crusader (The Seventh Seal). This Swedish director's films are intensely scrutinzed and studied in colleges all over the world to this day. This means that most Americans still don't understand his films! Still alive, he released in the U.S. in 2005 his first film in 23 years (Saraband), and he can still take on one more project to make your film biography. If curious, start with his films Wild Strawberries and Smiles of a Summer Night.

You scored higher than 94% on action-romance
You scored higher than 43% on humor
You scored higher than 51% on complexity
You scored higher than 83% on budget

juro por deus que não induzi o resultado. mas amei, amei... e.. já tive a sensação de habitar um de seus roteiros. Quem resiste a um quizz desses?

quinta-feira

esquadrinho horóscopos
até as mais altas horas.
em diminutas contrações
as estrelas tecem caminhos
gotejam lágrimas
no tule negro da noite.
nos mapas - altiplanos, íngremes - ,
planetas se entrelaçam,
se alfinetam.
Eu os imagino
dançando minuetos vertiginosos,
Entre lunetas voyeurs
e líricos foquetes,
saboreando o vinho dos deuses.
(júpiter flerta com vênus. plutão é voraz.
mercúrio arde de paixão contida)
sagrando insólitas constelações
onde um neon vencido, grita,
em toda a sua decadente incandescência
o gozo, único, da vida: destino.

vigor

é o que procuro. é o que se esvai. nos minúsculos e dramáticos raios de luz nas gotas de chuva que lambem minha vidraça. vigor para a vida. para o trabalho. para o medo. um lampejo de vigor por dia para acariciar os leões sorridentes. esse oxigênio que se infiltra tão ardentemente em meus pulmões, que parece preencher minha células de alma e minha alma de matéria bruta. vigor para enfrentar o calor. para ter leveza. para pegar no traco. dai-me senhor, um pouco de chuva e luz do sol, para que eu, nos entremeios de seus respingos misericordiosos, possa reluzir.