quarta-feira

Morangos.

É tempo de morangos aqui no DF. Nas esquinas dos lugares movimentados da cidade, há inúmeros vendedores empilhando as caixinhas repletas da fruta, vermelha e fresca, aguçando - por intermédio dos olhos - o mais desavisado dos paladares.

Quase todos os dias eu passo na quitanda do japa, voltando do trabalho, e compro ao menos duas bandejas de morangos. Prudente, espero chegar em casa para os lavar na água corrente da pia, mas o desejo que tenho é de degustá-los ali mesmo, em plena rua. Sentir já aquela polpa suave, açucarada, que não necessita de químico algum para deixar a vida menos amarga...

Antes de dormir, geralmente, eu abro um livro e me deito com minha tigela de morangos. É meu ritual de primavera. E vai durar o tempo necessário em que eles estiverem assim, em sua época de maior doçura.

E há todo um ritual nisso. Escolher os mais bonitos, transportar a embalagem, com o cuidado para que não se machuquem em ônibus lotado, depois caminhar até em casa com as bandejas no colo - duas quadras, ao todo - e lavá-los, um por um, sentindo a calidez de sua pele suavemente àspera na ponta de meus dedos.

Queria ter, para tudo na vida, essa mesma cautela que reservo aos morangos. Talvez, se não fosse tão intempestiva, conseguisse preservar alguns sentimentos, para que eles fossem tão livres e plenos quanto os morangos saboreados um a um, sem pressa. Ao menos não me sentiria assim, com essa indigestão de quem comeu uma fruta roubada. Remoendo a culpa de ter devorado uma tonelada de morangos de uma só vez.

12 comentários:

Anónimo disse...

Sao esses pequenos prazeres que so pessoas sensiveis como voce conseguem transformar em lindas palavaras.
Bons morangos!
Beijinhos

Anónimo disse...

"Morangos silvestres": a ânsia da infância, a volta à infância... Mas a vida nos ensina, adultos, a ter cautela. Talvez seja bom que em nem tudo na vida sejamos sempre adultos... :-) O poema do Drummond eu coloquei em resposta a seu texto, sim! É também o meu poema, o Elefante sou eu também :-)
Beijos
Lou

Anónimo disse...

Eu gosto muito de morangos e também deixo a culpa me devorar aos bocadinhos. Péssimo, não? A gente precisa mudar tudo - com urgência - e devorar o que bem quiser.
Ah, as ilustrações que você gostou são de uma francesa, o site dela é muito delicado, vale uma conferida com a maior calma, acho que você vai gostar.
http://www.karinedaisay.com/main.html
Beijinhos.

Anónimo disse...

Passei por aqui para apreciar morangos e aprender roubar das peles a calidez necessaria para aprecialas melhor.

Grato

S_E

Palpiteira disse...

Eu não sabia, mas é assim que me sinto: empachada, como se tivesse comido muitas frutas roubadas.
Adoro morangos. :)

Laura_Diz disse...

Vc é engraçada... não vá comer morangos semlavar, hein? eu adoro tbm, sempre acho que comi pouco, quero mais, aqui não são gostosos, né? bjão, laura

Anónimo disse...

So passando pra te desejar um otimo findi!
Beijos

Sara Graciano disse...

Sabe que tem frutas que dá mesmo vontade de sair comendo aassim mesmo depois de comprá-las...tenho esse problema com as ameixas...

Os pequenos prazeres, me lembrou Amelie Poulain que gostava de enfiar a mão nos sacos de ervilhas...

Quando eu for a Brasília visitar mammys te aviso, aí comemos uns morangos juntas.

Bjão, bom final de semana ;)

Anónimo disse...

, cinematográfico teu texto. conseguimos ver todos os passos, todo o caminho com morangos...

|beijos meus|

Ane disse...

Há coisas que precisam ser devoradas com pressa. Eu creio. E a vida é tão curta, afinal...

Em Porto Alegre eu lembro dos dias de morangos pelas esquinas. Meninos nos sinais. Caixas e caixas com cheiro desejável e cor absolutamente sedutora. Adoro morangos. E a saudade.

Beijo, Dai.

Anónimo disse...

Sempre passando e querendo te ler +.
Beijo

Thaty disse...

Ah, como eu queria ter a capacidade de fazer as analogias que você faz... :)

Beijocas!!