quinta-feira

Janelas.

Outro dia comecei um diálogo com ela sobre janelas...

Daí me ocorreu que talvez janela seja a minha palavra favorita...
Gosto da grafia, do som – a mistura aguda do jota, com êne e ele. As rimas possíveis são bonitas. E, além de tudo, há uma simbologia vigorosa por trás de uma simples janela.
“Se Deus fecha uma porta, em algum lugar, abre-se uma janela”. Elas escondem portais mágicos... revelam frestas de vida para pessoas confinadas à clausura monótona de um quarto...
Para alguns, são o único contato com o mundo externo. Para outros, a única forma de diversão...
Quem caminhou alguma vez pelas paisagens sertanejas, irá lembrar da imagem repetitiva das mulheres de todas as idades se debruçando nas janelas... idosas com o olhar profundo, jovens mães, tendo filhos pendurados na cintura, garotas de banho tomado e vestido novo, à caça de pretendentes que possam transportá-las daquele ambiente doméstico ao alheio mundo “lá fora”...Remontando à herança simbólica dos romances de cavalaria, da donzela que jogava as tranças ou as cordas janela abaixo, para partir ao encontro do amor.
Em culturas patriarcais como a nossa (sobretudo na zona rural), as janelas são os olhos das mulheres, filtram e enquadram o que podem e devem ver... por isso é tão comum observá-las tomando conta daquele território com seus olhares insistentes, a vasculhar as novidades que passam e seguem...enquanto elas ficam, a sós com seus desejos...
Lembro também do filme Mar adentro, no qual o protagonista, paraplégico, passava os dias em sua cama. De uma ínfima janela sequer podia avistar o mar, mas adivinhava a sua proximidade, logo ali, adiante. Este era um dos poucos alentos de seus dias... a luz esmaecida do dia claro penetrando o ambiente, permitindo-o alçar vôos panorâmicos até a praia de seus sonhos.
E são as janelas milionárias de Bill Gates que nos permitem diminuir distâncias e tangenciar horizontes tão diferentes, num vôo tão mágico quanto o imaginado pelo personagem do filme – não quero soar como uma romântica adepta da filosofia da comunidade virtual global , sou consciente de que se recriam outras fronteiras, mas, que o nosso o mundo está ficando a cada dia mais pequeno, isto está. Entretanto, como em todo confinamento alumiado por uma brecha sinuosa, este também tem as suas desvantagens...
É... janela para mim é um vocábulo capaz de ascender uma luz no fim do túnel... mesmo conhecendo o seu avesso mais daninho, resta o desejo pelo desconhecido, pelos caminhos escondidos no além onde cada horizonte termina.

2 comentários:

Anónimo disse...

Essa janela dos teus olhos é que encanta a nossa leitura por aqui.Bom findi.
Beijos pra voce e pra gatinha

Thaty disse...

Também adoro janelas! No apartamento anterior em que eu morava a janela do meu quarto era grande, arejada, iluminada, gostosa. Quantas noites passei sentada no parapeito, vendo as estrelas! No novo apartamento não me cabe no parapeito: temos uma grade que garante a segurança dos de dentro e dos de fora, mas acaba com a minha vista. Paciência! Não se pode ter tudo, não é?

Beijos!!