segunda-feira

Uma lua só para mim

Esses últimos dias foram mais solitários do que de costume. Pois tive enxaqueca e dores no estômago – tudo isso por devorar um pacote inteiro de amêndoas carameladas. Quinta-feira e sábado foram os dias em que pus os pés fora de casa, neste último, apenas no intuito de ir deixar minha tia no aeroporto.

No dia 7, ignorando completamente a tolice do feriado pátrio, fui a um compromisso já bastante adiado: ver a exposição de arte cubana no CCBB de Brasília. Gostei bastante dos quadros, tão cheios de vermelho, negro, amarelo, dessa coisa independente e desgarrada, e ao mesmo tempo tão comprometida com a realidade que a cerca, que parece estar na alma do povo cubano. É um prédio lindo, moderno. Apesar do Niemeyer (não o acho ruim, mas, sim, esdrúxulo demais uma cidade inteira projetada por um arquiteto moderno. É como ter a casa repleta de telas da fase cubista de Picasso nas paredes. Excesso cansa, angustia... e o Niemeyer é muita angústia de concreto pro meu gosto)...

Mas o prédio do CCBB é lindo, sim. É integrado com a natureza. Com laguinho artificial em volta e esculturas da Tomie Ohtake no jardim. Ao escurecer, surgiu uma lua enorme, alaranjada... Dessas cheias de tirar o fôlego, que alteram as marés e os 80% de água do corpo da gente, elevam os ânimos e fazem os/as malucos/as atirarem pedras em sua direção. Eu lamentei não ter uma câmera para fotografar.

Era uma coisa única aquela visão ali, de onde estávamos – eu e minha amiga -, sobre a paisagem de lago, antúrios e esculturas modulares brancas. Sentamos enquanto esperávamos o ônibus, observando os casais que se aproximavam e apontavam – ora com suas máquinhas fotográficas, ora com aquelas caras de tontos, achando que ela existia só por causa deles. Eu podia ler seus lábios: 'olha só a lua, que linda!...' E eu, tola, vendo a minha lua se desmistificando - queria que fosse só minha... vejam só, que egoísmo! Acho que a solidão tem dessas mesquinharias...

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De resto, a vida segue... Vi uma overdose de telecine este fim de semana. Assisti Annie Hall duas vezes - mais um filme apropriado por mim e tornado biográfico. O monólogo final é fantástico. Ele fala de um cara que vai ao psiquiatra queixando-se do irmão que pensa ser uma galinha. - Livre-se dele, recomenda o psiquiatra. - Não posso, preciso dos ovos, responde. Allen conclui que com os relacionamentos é a mesma coisa: por mais confusos e absurdos que sejam, a gente insiste em se apaixonar, afinal, precisamos do ovos...*
Gênio, esse cara. La di dah...

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Tenho um presente bonito precisando viajar até uma pessoa querida...mas que ainda não teve chance de chegar ao correio...

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E pedi a alguém especial que me enviasse fotografias das orquídeas do avô por email. Tenho planos para elas, porque são as mais bonitas que já vi. Se der certo, uma delas vai estar sobre minha pele, logo, logo... :P

* achei o texto original: “I thought of that old joke, you know, this guy goes to a psychiatrist and says, ‘Doc, uh, my brother's crazy. He thinks he's a chicken’. And the doctor says, ‘Well, why don't you turn him in?’ And the guy says, ‘I would, but I need the eggs’. Well, I guess that's pretty much how I feel about relationships. You know, they're totally irrational and crazy and absurd and... but, uh, I guess we keep goin' through it because, uh, most of us need the eggs.”

se minha vida, hoje, fosse um musical...

esta canção seria parte da trilha...

Send in the Clowns
Steven Sondheim

Isn't it rich?
Are we a pair?
Me here at last on the ground,
You in mid-air.
Send in the clowns.

Isn't it bliss?
Don't you approve?
One who keeps tearing around,
One who can't move.
Where are the clowns?
Send in the clowns.

Just when I'd stopped opening doors,
Finally knowing the one that I wanted was yours,
Making my entrance again with my usual flair,
Sure of my lines,
No one is there.

Don't you love farce?
My fault I fear.
I thought that you'd want what I want.
Sorry, my dear.
But where are the clowns?
Quick, send in the clowns.
Don't bother, they're here.

Isn't it rich?
Isn't it queer,
Losing my timing this late
In my career?
And where are the clowns?
There ought to be clowns.
Well, maybe next year.

Dá para ouvir aqui.

Três finais

Esse fim de semana fiz ficha na locadora aqui perto. Considerando que há um mês e meio estou aqui, acho que é o prazo. Para se ter ficha na locadora. Mas não era sobre isso que queria falar. O que acontece é que tenho um amigo que me indica filmes e pergunta se já os vi. Bom, indicar não é bem a palavra. Ele intima. Tipo, ele é bem persuasivo. E insistente. Então, há um ano ele me perguntava. Sempre. Se já havia visto Cold Mountain. E eu ficava meio sem jeito...mas a resposta era sempre não. Não tinha cara para contestar e explicar que este não é bem o meu tipo de filme...e ele falava muito apaixonadamente da história. Quando começávamos a conversar no msn, antes de mais nada, eu advertia: “não, ainda não vi Cold Mountain”... Mas, esse amigo é muito querido. É o que chamam de pessoa sui generis. Não existe outro igual. Por exemplo, não conheço mais ninguém nesse mundo que tenha conhecimentos enciclopédicos sobre concursos de miss. Nem outra pessoa cujo grande dote culinário seja fazer churros com recheio de doce de leite. Junte a estes ingredientes um sarcasmo fora do comum e um excelente gosto cinematográfico: eis a pessoa inigualável de quem falo. Por isso é tão querido. Por isso eu corri na sexta-feira e fui alugar Cold Mountain. Pois não podia mais me sentir em dívida com ele... E também vi outro, de sua indicação. Um donut britânico... “Querido Frankie”. Para encerrar, aluguei uma indicação indireta dela. E...amei. O assisti em ótima companhia, aproveitando um convite para um almoço de domingo, com direito a uma deliciosa lasanha de caixinha (adoro lasanha de caixinha).
O interessante desses três filmes é que me advertiram de que os finais eram frustrantes...engraçado porque não achei...

Cold Mountain
De fato, depois daquela espera fastidiosa, de algumas situações nonsense no meio do caminho e todo aquele sangue suor e lágrimas... é cruel que tudo tenha se resumido a 1 noite só. Mas, como, em termos de guerra civil americana, o parâmetro para essa produção hollywoodiana é “E o vento levou”... não dava para esperar outra coisa a não ser um final onde as personagens femininas fossem preponderantes. Reneé Zellwegger é a caipira arquetípica. Nicole Kidman está perfeita no papel que melhor sabe fazer: o de mulher mais linda do mundo. Jude Law – se não tiver usado dublê de corpo – tem o bumbum mais escandalosamente perfeito e exuberante do cinema. E Natalie Portman só precisa de alguns minutos de filme para roubar completamente a cena. Claro, chorei cântaros, do começo ao fim. Lindo.

Querido Frankie
Um docinho esse filme rodado em Glasgow. (Lindas paisagens portuárias. Lindas tomadas sobre o mar). Sobre um garoto surdo de nascença que troca cartas com o pai, marinheiro viajando o mundo à bordo de um navio pesqueiro. Na verdade, a pessoa por trás das cartas é a mãe dele, uma mulher jovem e solitária, de grande imaginação que quer proteger o filho da sombra do homem violento com quem conviveu no passado. O conto de fadas vai bem até que o jornal noticia que o tal navio irá aportar na cidade. A moça se apressa em alugar um pai para não acabar de vez com os sonhos do menino. O roteiro tem uns furinhos. Tipo, o pai alugado é perfeito demais. Podia ser um pouquinho menos. Já brinquei que quero saber quanto custa um fim de semana com um daqueles, pois a minha gata e o meu cachorro andam muito carentes. Hehehe. Gerard Butler é um charme. Aff. O final é super bonito e nada óbvio. Lógico que não vou contar. Mas é muito singelinho e sem moral. Apenas a vida. Uma história de amor em família.

Contra a parede
Ela falava de um jeito super instigante desse filme. Eu assisti e era como se já conhecesse aquela história de perto. Não falo das circunstâncias. Mas dos sentimentos. Do encontro de sobreviventes. Que fazem pouco caso desse mundo porque não se sentem mais parte dele. Daquele carnaval de sentidos. Do gosto agridoce que mistura encantamento, vertigem, posse. Nessa ordem. Eu sabia que ‘aquele’ seria o final. Já o conhecia. Para mim é bastante razoável compreender que há pessoas que encontram complementaridade e estabelecem laços de amor vindos de um instinto de sobrevivência. Mas, desde logo, fica claro que eles não se pertencem. E a vida segue outros cursos. Quando, enfim, libertam-se da fúria autodestrutiva, precisam recomeçar sem nenhum vestígio de passado.